CONFESSO
Me sinto como que atrás de um vidro
blindado, acenando e gritando para as pessoas do outro lado, correndo
o desespero de suas vidas, sem que me entendam, me ouçam, me vejam.
Tento dizer a elas que o mundo, a vida humana poderia facilmente ser
radicalmente diferente do que é, mas as palavras se esvaem sem que
nenhuma atinja seus ouvidos.
Porque elas estão do lado de cá e eu
do lado de lá? Isto não é uma comparação, uma competição para
ver quem esta mais certo, ou mais errado, mais poderoso e menos
poderoso, superior ou inferior, mas sinto que minhas manifestações
são interpretadas pelas pessoas como se fosse uma competição.
Provocação sim, mas competição não!
Tenho pensado muito sobre o que seria
“comunicação”. Como seria efetivamente se comunicar. A
semântica sugere que comunicação seja “ação em comum”. Então
como podemos agir em uníssono? Percebo que em geral temos muito medo
do desconhecido e sempre preferimos a “zona de conforto” à
sombra do conhecido. Então tentarei explicar o que estou vendo
daquele outro lado onde me vejo estar. Quem sabe, se as pessoas não
tiverem preconceito, consigam entender um pouco desta visão que me
define.
Acho que todos já ouviram falar de
“ciências ocultas”. Em geral as pessoas entendem isto como magia
negra, ocultismo, bruxaria ou ações relacionadas ao espiritismo. Se
pudermos deixar este PRÉ-conceito de lado e nos atermos ao sentido
semântico exato das palavras, veremos que “ciências”
se refere ao que é científico, lógico, consistente, coerente,
fenômeno comprovável por qualquer um. E “ocultas”
se refere ao que não é visível, ou quiça tangível pelos 5
sentidos, ou justamente o desconhecido para o censo comum. Então na
acepção correta, o termo “ciência oculta” deveria significar a
“consciência
do desconhecido”.
Então para seguir adiante, separaremos o mundo “tangível
do intangível”.
Todos sentimos que há algo
“intangível” presente, mas não sabemos de fato o que é, porque
ele é intangível pelos nossos 5 principais sentidos, justamente
pelos quais percebemos o mundo que chamamos de “mundo material”.
Estamos separados do intangível pelo que chamamos de “morte”. A
única opção que temos, em princípio, é sondar este mundo
desconhecido intangível através de crenças,
que se definem em ideias,
às quais atribuímos valores.
Quais são as crenças, ideias e valores certos? As minhas, as suas?
Os nazistas juravam que as deles eram as certas, as superiores, as
poderosas. 250 milhões de pessoas morreram pelo mundo graças a
isto. Outra filosofia religiosa matou centenas de milhares de
pessoas, de maneira bárbara e cruel, ao longo de séculos de sua
permanência, para impor ao mundo suas crenças, ideias e valores
como certas, absolutas e únicas. Atualmente o fundamentalismo
através do terrorismo tenta obrigar o mundo a aceitar suas ideias,
crenças e valores como os certos e únicos. Como podemos ver, toda
vez que a gente acha que sabe a verdade, que é dono da verdade isto
sempre gera violência.
Será mesmo que deveríamos nos matar
por causa de ideias, crenças e valores? E se no dia seguinte, por
algum motivo de força maior, mudarmos de ideias, crenças e valores.
Teremos assassinado outras pessoas por algo fugaz, fútil, volátil,
IRREAL. Se ideias, crenças e valores são irreais, o que é o REAL?
E sobretudo, porque estamos nos matando uns aos outros por causa de
ideias, crenças e valores?
Primeiro vejamos como às vezes
podemos mudar nossos conceitos do dia para a noite. TRAUMAS. Ninguém
está imune a sofrer traumatismos violentos. Por forças da natureza
e provocado por outros seres humanos. Quando isto acontece,
inevitavelmente a pessoa se vê forçada a rever todos seus conceitos
e reformulá-los.
Em segundo a questão do que é
realidade. Como combinamos que estamos investigando “cientificamente
o oculto”, temos que aceitar o método da investigação científica
para prosseguir. Então vamos recorrer a Einstein: “ O universo é
relativo”. Einstein se referia ao universo material, que julgamos
sólido, inquestionável uma verdade que nos parece absoluta. No
entanto Einstein afirmou e comprovou que a matéria é relativa. Ora,
se o tangível é relativo, o que se dirá então do intangível.
Antes de vestirmos esta INSEGURANÇA,
provocada por este conceito acima, com novas crenças, valores e
ideias, vamos prosseguir em busca de respostas pera a terceira
questão formulada anteriormente. Porque estamos nos matando por
causa de ideias, crenças e valores?
No próprio parágrafo anterior está
a resposta, que me parece inequívoca. MEDO.
O homem, preso a sua falta de visão do que é real, tangível e
intangível, sente-se ameaçado por caminhar ás cegas, sente-se
INSEGURO! Esta incerteza
faz com que se apegue
desesperadamente à ideias, crenças e valores. O APEGO à conceitos
de SUPOSTAS VERDADE ABSOLUTAS, causa todo sofrimento e violência
humanos. Se você pensa diferente de mim, preciso destruí-lo, porque
você passa a ameaçar minha SEGURANÇA PSICOLÓGICA. Os nossos
maiores ditadores, tiranos e déspotas, são nosso maiores medrosos.
Se o mundo é relativo, feito de
incertezas, é possível viver nele SEM MEDO, em paz, harmonia,
criatividade, riquezas e sobretudo AMOR?
Se não será possível descobrir o
que é a VERDADE, porque ela é RELATIVA, muda a cada momento, não
pode ser aprisionada, condensada numa fórmula, numa receita, por
nenhum ser humano que queira dominar os outros e o mundo, será
possível viver neste mundo SEM MEDO? Está é a pergunta correta e
definitiva que resolveria todas as questões levantadas acima.
Se para entender o mundo que vivemos,
tangível e intangível e não é possível SABER A VERDADE para
fazê-lo, quem sabe se descobrirmos a MENTIRA, tudo o que sobre seja
a VERDADE, já que a mentira
é plenamente possível conhecer.
Então, isto é que é “ciências
ocultas”!!!, O
conhecimento da mentira. É
isto que as filosofias orientais chamam de “extinguir os véus da
ilusão”.
Veja bem, se nós formos bem sinceros
e honestos, vamos ter que admitir que não sabemos a verdade, por que
é impossível SABER a realidade, mas sobra algo muito mais valioso
que é SER a realidade.
Ora, será que não conseguimos
simplesmente SER o que É? E a INSEGURANÇA PSICOLÓGICA, o MEDO que
tanto nos atormenta, incita o ódio, à violência? Há algum remédio
para isto? Alguma fórmula mágica? Vamos voltar a acreditar em algo
ou alguém? A verdade com relação a qualquer mentira, é que não há
nada a fazer contra a mentira. Basta saber que não é verdade e ela
aos pouco vai cedendo, se dissolvendo até que não sobre nada. E quando não sobrar
nada, só o vazio, você terá encontrado a verdade por que estará
sendo a verdade, e isto basta, quer você queira ou não.
É complexo. É um caminho tortuoso o
caminhar entre as mentiras que cada um de nós construiu para viver
em seu próprio mundo. Exige paciência e determinação para se
chegar ao FATO que é a VERDADE DEFINITIVA.
Então voltando a questão inicial
sobre o tangível e o intangível, no universo intangível onde me
vejo, do outro lado de lá, vendo as pessoas do lado de cá se
debatendo e vivendo exclusivamente no universo tangível do medo, tenho a
declarar e afiançar que é possível viver neste mundo de maneira
totalmente livre, SEM MEDO, feliz, plenamente, com fartura, abundância,
segurança física, e mais. Aquele paraíso que contam as mitologias do qual
supostamente fomos expulsos, na verdade nunca deixou de estar
presente em nós. Nunca saímos de lá. Somos nós mesmos que nos apartamos dele, guardando
sua entrada com a espada de fogo do nosso MEDO, para impedir nosso
próprio retorno.
Que tal em vez de termos uma ideia,
acreditar e valoriza-la como supostamente verdadeira, a respeito do que
seja deus, alma, espírito, vida após a morte, reincarnação, etc,
VIVENCIARMOS INTEGRALMENTE a verdade do que seja este mundo que se
mantém oculto a nossa mente tangível. Não precisamos saber o que é
o INTANGÍVEL, só precisamos viver ao mesmo tempo nos universos
TANGÍVEL e INTANGÍVEL. Quem vive só no tangível não tem a menor
ideia do paraíso, felicidade, plenitude que seja conhecer e estar
também no INTANGÍVEL. Mas isto não será possível se você se
mantiver preso, amordaçado e refém das suas ideias, crenças e
valores. Terá de trocá-los por fatos irrecusáveis. Não seguir
meus conceitos, os seus ou de alguém. Mas fatos, são fatos. Não são meus ou seus, são a mesma coisa para todos.
Wagner Nogueira
MTB
0070585/SP
Serrana 03/07/16
De Noel Rosa.